FORMAÇÃO EM CIRCO - Novas possibilidades.
Você tem curiosidades sobre a formação em circo no Brasil? Entenda um pouco como na década de 1980 o circo ganha "potencial como uma ferramenta educacional e pedagógica" e compreenda o "cenário profissional do circo hoje".
Texto de Marília Mattos, Coordenadora Pedagógica do Espaço Escola ARENA DE ARTES, licenciada em dança pela Universidade Anhembi Morumbi e Mestranda em artes da cena - "As relações do circo social e a formação em circo no Brasil" pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
No Brasil, o circo chega com as famílias circenses, com pouco ou nenhum equipamento, portando apenas as habilidades do próprio corpo (PIMENTA, 2009). O que certamente não fez com que limitasse o desenvolvimento dessa arte, já que seguimos, cada vez mais pessoas praticando - ainda que com uma redução drástica das habilidades envolvidas.
Explica-se: ser circense era um modo de vida. O aprendizado sob a lona formava e qualificava para a vida cotidiana, e para todos saberes profissionais circenses necessários à prática (SILVA; ABREU, 2009).
A organização chamada ‘circo-família’ era uma escola permanente, que viabilizou a continuação da arte, de pai para filho. Apesar de pouco registro desta época, temos nas gerações que virão a promessa da continuidade e a manutenção da memória dessa arte. Eram circenses, portanto, os que nasciam na família, e os agregados por casamento, ou mesmo por se unir ao circo, seguindo viagem e participando desta nova família. Até a década de 1970, esse tipo de estrutura permanece sendo o único modo de formação artística e profissional. (SILVA, 2011)
Após a criação das escolas de circo nos anos 1970 e 1980, a “função educativa do circo” (HOTIER, 2003) ganha destaque. Seja pelas iniciativas dos próprios circenses que se organizaram criando escolas fora do ambiente familiar, aberto a interessados na atividade que não morariam no circo, seja pela expansão da atividade do circo como ferramenta em projetos sociais. Na década de 1980, então, se reconhece com mais força o potencial do circo como uma ferramenta educacional e pedagógica.
Pesquisando projetos formativos e livres, foram encontradas poucas possibilidades. Contudo, cada uma tem grande importância para colaborar com o cenário profissional do circo hoje.
A Escola Nacional de Circo, no Rio de Janeiro, oferece formação técnica em artes circenses, e desenvolve ações nos campos de formação, produção, difusão e fruição das artes circenses, atuando em diversos elos da cadeia produtiva do circo. É um curso de período integral, com duração de 2 anos, em que o aluno selecionado para uma das 55 vagas, recebe uma bolsa para estudar durante esse período. Outra escola de formação técnica, mantida pelo estado de Minas Gerais é o Curso Técnico em Artes Circenses, realizado pelo PlugMinas, que oferece 40 vagas (e está em sua primeira turma).
Outro setor de formação em circo que se destaca no Brasil, são os projetos de circo Social. Temos a Escola Pernambucana de Circo, que apesar de ser reconhecida pelo atendimento pedagógico com o viés do circo social, promove um projeto de formação de jovens em diversas modalidades circenses. Existe também a Escola Picolino de Artes do Circo, em Salvador – Ba, que atua com circo social, mas também com aulas pagas, e criaram o curso de formação chamado Universidade Livre das Artes do Circo, assim como a escola de circo Crescer e Viver, que atua como projeto social e com cursos de formação.
Nos últimos dez anos, tivemos um crescimento exponencial de criação de escolas de circo, e com isso, houve uma necessidade de pessoas atuando nesses espaços – escola de ensino formal, academias, escolas de dança, studios de pilates, e etc – muitas vezes com pouca ou nenhuma preparação adequada. Porém, como se preparar nessas escolas de
formação disponíveis? Principalmente para quem já é educador físico, instrutor de pilates ou professor de dança, como interromper suas carreiras para buscar, por exemplo, a formação na disputada escola nacional, que tem inclusive um enfoque muito mais para a área artística do que a área pedagógica?
É bastante improvável essa possibilidade, então o que acontece muitas vezes é começar a dar as aulas de circo e ir aprendendo o específico de circo ao mesmo tempo. Porém, outro problema recorrente é que quando estes profissionais vão aprender as técnicas de circo, em geral não são ensinados para ensinar, mas sim para se desenvolverem. E pouco colabora para sua aula com crianças e/ou iniciantes.
Pensando em todas essas problemáticas que envolvem o novo modelo de formação em circo, fora da organização das circo-familias, a Arena de Artes cria uma alternativa para pessoas que tenham a intenção de trabalhar dando aulas de circo para crianças, ou que já trabalham, mas tem pouca possibilidade de trocar experiências e se reciclar. É o Treinamento Teórico Prático – Ensino de Circo para crianças. Este ano é a 4ª edição do curso, dividido em três módulos para que cada um direcione o seu tempo para o que realmente interessa.
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Referências Bibliográficas
HOTIER, H. (Org.). La fonction éducative du cirque. Paris: L’Harmattan, 2003.
PIMENTA, Daniele. A dramaturgia circense: conformação, persistência e transformações. Tese (doutorado). Campinas: UNICAMP, 2009.
SILVA, Erminia; ABREU, L. A. Respeitável público... o circo em cena. Rio de Janeiro: Funarte, 2009.
SILVA, Erminia. Saberes circenses: ensino/aprendizagem em movimento e transformações. In: BARONI, J. F.; HECKTHEUER, L. F. A.; SILVA M. R. S. (Org.). Circo, lazer e esporte: políticas públicas em jogo. Rio Grande: Universidade Federal do Rio Grande, 2011.